quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Síntese do Grupo de Trabalho 1

"Agro-hidro-territórios, degradação da natureza e do trabalho"

Coordenadores/as
Helena Angélica Mesquita (UFG – Catalão-GO)

Atamis Foschiera (UFTO – Palmas-TO)

Juscelino Bezerra (PPGG-UNESP/Presidente Prudente-SP)

Ana Maria Soares de Oliveira (UEMS – Jardim-MS)


A leitura dos textos submetidos ao GT 1 possibilitou a reflexão sobre temas importantes que comparecem na agenda de discussões da ciência geográfica na atualidade. Se podemos destacar pontos em comum presentes nas pesquisas, houve, sem dúvida, uma forte preocupação dos pesquisadores em aprofundar/contextualizar a relação entre Estado, Capital, Trabalho e, em menor escala, debater os conflitos sociais e iniciativas de movimentos populares no que tange à questão dos agro-hidroterritórios. Desse modo, foi possível compreender a riqueza de situações e casos que ilustram a complexidade da dinâmica social e territorial presente no Brasil. No que refere à discussão sobre o Estado, tema bastante ressaltado nas análises, pudemos identificar aspectos importantes que merecerem destaque . O Estado é entendido como um agente privilegiado na operacionalização do capital, sendo o responsável pela criação de um meio ambiente construído marcado pela construção de importantes obras de infraestrutura favorecidas pela aplicação em demasia de recursos financeiros, provindos do tesouro público. Desse modo, o Estado é sempre um parceiro privilegiado do capital, tal como prega a adoção das políticas de corte neoliberal. Portanto, há nitidamente um embaralhamento da fronteira entre público e privado. Tendo em vista que o Estado tem se tornado ele mesmo o próprio capital quando assume a dianteira na aquisição de portentosos grupos empresariais de diferentes setores da economia, com recursos de bancos estatais, a exemplo, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (ou deveríamos dizer empresarial?).
Porém, se o Estado se fortalece por um lado como agente do capital, por outro lado, diminui seu papel na mobilização social e no atendimento à comunidade, abrindo espaço para a atuação do capital privado e para a transformação de direitos em serviços. Na contramão desse processo, os movimentos sociais organizados também disputam o Estado, pressionando-o na tentativa de garantir suas reivindicações que muitas vezes (mas não sempre) superam a luta por direitos e colocam no centro da discussão a proposta de um novo projeto de sociedade. Todavia não devemos nos enganar e assumir como premissa a idéia do esvaziamento completo e generalizado do papel do Estado. Um dos exemplos que justamente negam esse processo é quando observamos o Estado atuando na regulação de todo o ambiente empresarial, pautado pela criação coetânea de políticas públicas e a normatização da vida social. Nesse ínterim, o Estado “regula” até mesmo a relação entre sociedade e natureza ao criar políticas ambientais que descaracterizam toda a trajetória de inúmeros sujeitos sociais, cujo modo de vida é ameaçado não somente pelo capital, mas também pela criação de leis que buscam uma conservação ou preservação ambiental romântica e esquizofrênica.

Do ponto de vista dos novos arranjos do capital, sobretudo representado pelo agronegócio sucroalcooleiro, chama a atenção o aspecto histórico e geográfico. Ou seja, a relação espaço e tempo, pois não podemos imaginar a dinâmica do setor da cana de açúcar sem considerar que em determinadas regiões essa produção ocupa vastos territórios desde o período colonial. Já em outras regiões, a expansão canavieira incorpora novos territórios, evidenciando o potencial produtivo e, sobretudo destrutivo dessa personificação do capital em agronegócio. O que nos conduz a observar as rugosidades deixadas pelo tempo e a continuidade dos conflitos territoriais. Desse modo, a investigação sobre o setor deve atentar para seu caráter multiescalar e para as diversas temporalidades que evidenciam o crescimento do agronegócio, as modernas tecnologias adotadas, bem como a persistências do trabalho precário e da luta pela terra.
No que se refere ao trabalho, a sua precariedade se expressa no processo de terceirização, no pagamento por produção, nas más condições de equipamentos de trabalho, no descaso quanto as condições de higiene dos trabalhadores nos locais de trabalho, no descumprimento da legislação trabalhista, entre outros fatores. Em relação ao trabalho assalariado, outro ponto destacado foi a desorganização coletiva dos trabalhadores, marcada pela pouca organização e atuação dos sindicatos.
Ao partir das questões mais gerais suscitadas pelos textos encaminhados ao GT1, também queremos propor a discussão, apresentada aqui na forma de perguntas que nos conduzam a pensar sobre alguns aspectos na perspectiva teórico conceitual , são eles:

Agro-hidronegócio: Quais as reais pretensões desse termo? Chega a um status de conceito? Se sim, como o processo de apropriação da água deve ser compreendido no bojo na discussão já corrente sobre o agronegócio?
Qual a vinculação que a Geografia possui no debate sobre a construção do sujeito desde o ponto de vista mais ontológico ao epistemológico e o uso dessa categoria nas pesquisas geográficas?
Estado e a gestão ambiental: uma regulação “cega”? Que tipo de desdobramentos é possível desvendar a partir da análise da relação entre os grupos econômicos e os conflitos socioambientais? Como compreender as populações tradicionais como parte da sociedade contemporânea? Ou seja, não compreendendo-a como um resíduo sociohistórico. Nesse sentido, falar em populações tradicionais ajuda ou atrapalha as estratégias políticas?Movimentos sociais: quais são os novos desafios postos aos movimentos sociais no momento de crescimento econômico vivenciado pelo país e na mudança da base social que dá sustentação aos movimentos? O que os movimentos sociais têm apresentado de novidade no enfrentamento ao capital? Falamos em plasticidade do trabalho geralmente como o resultado da expressão da nova morfologia da classe trabalhadora e do conjunto das experiências laborais vivenciadas pelos trabalhadores(as). Outro aspecto que merece ser destacado é que há uma face nociva dessa plasticidade como também há uma dimensão positiva, geralmente quando essa transição/mutabilidade de experiências laborais ocorre no sentido do resgate (ou o primeiro encontro) do trabalho como valor de uso, como fonte de identificação e liberdade. Nesse caso, os movimentos sociais cada vez mais aparecem como a esfera da luta social responsável por esse encontro do trabalhador com a sua liberdade. Como esse processo acontece no conflito com o agronegócio em diversas escalas geográficas e quais são suas particularidades?

Qual a relação entre a expansão do capital e a expropriação da natureza?


Esperamos que nossa contribuição possa, de algum modo, tencionar as discussões que serão desenvolvidas não somente nos GT’s, como também no desenrolar da XII Jornada do Trabalho. O evento em questão vem se consolidando como um espaço privilegiado de discussão das tramas territoriais do capital no Brasil que afetam diretamente o mundo do trabalho, seja no campo ou na cidade. Desejamos um ótimo evento!


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