quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Síntese do Grupo de Trabalho 2

"Conflitos territoriais e fragmentação do trabalho: a expropriação capitalista no campo e na cidade, para além das dicotomias"

Coordenadores/as
Antonio Thomaz Júnior (UNESP-Presidente Prudente-SP)

Fernanda Keiko Ikuta (Faculdades Integradas Espíritas – Curitiba-PR)

Marco Mitidiero Júnior (UFPb – João Pessoa-PB)

João Edmilson Fabrini (UNIOESTE – Mal. Cândido Rondon-PR)

Silvia Regina Pereira (UNIOESTE – Francisco Beltrão)

Edvaldo Carlos de Lima (UEPB – Guarabira -PB)


A proposta deste grupo de trabalho (GT) é discutir os conflitos territoriais e a fragmentação do trabalho, sejam eles resultantes de processos de expropriação capitalista no campo ou na cidade. A busca por entender e debater processos para além das dicotomias campo e cidade é um grande desafio do qual o Ceget tem se proposto e, que na XI Jornada já comparece como esforço deste GT que ora damos continuidade de forma mais ampliada e, esperamos, aprofundada.

Tivemos 49 trabalhos inscritos neste GT, dos quais a menor parte trata diretamente da relação campo-cidade, o que em nada inviabiliza nossa proposta de avançar na superação de uma análise dicotômica desta relação uma vez que o objetivo é, partindo exatamente de temas diversos e até mesmo despreocupados com esta relação, possamos, durante os dois dias de discussão no GT, perceber similitudes e particularidades de processos de expropriação capitalista no campo e na cidade. Ou seja, nos caberá, olhar para diferentes conflitos territoriais e nos perguntar se há e quais são as similitudes e particularidades dos processos de expropriação capitalista.

Neste sentido, os trabalhos inscritos nos apresentam um amplo panorama de conflitos territoriais. Alguns deles são:

a) a reforma agrária e a questão agrária: experiências de acampamentos e assentamentos rurais em várias partes do país; o papel dos jovens nos assentamentos; as políticas públicas em diferentes âmbitos como as políticas de reforma agrária, o Plano Nacional de Reforma agrária e planos de desenvolvimento territorial locais; o agronegócio canavieiro, etc.;

b) a reforma urbana e a questão urbana: não houve inscrição de trabalhos que discutam este tema de forma vertical, mas há vários textos que nos remetem a perpassar essa discussão, afinal, como debater a segregação socioespacial sem refletir sobre a questão e a reforma urbana? Será ainda mais frutífero se conseguirmos relacionar a questão agrária e a questão urbana.

c) a soberania alimentar e a contraposição entre a produção de alimentos e os commodities: aqui comparecem trabalhos que colocam a territorialização do agronegócio em contraposição com a garantia da nossa soberania alimentar;

d) a saúde do trabalhador: os problemas com a intoxicação por agrotóxico na fumicultura; a saúde dos trabalhadores no corte da cana-de-açúcar e nos frigoríficos das agroindústrias;

e) a fragmentação da práxis social do trabalho, processos de dissidências políticas dos movimentos sociais, a ação do Estado e os limites da teoria frente a complexidade do ser que trabalha: há um trabalho que discute diretamente a dissidência e a fragmentação dos movimentos sociais na Zona da Cana em três estados nordestinos, mas outros trabalhos podem suscitar o debate destes temas agregados a partir de uma leitura transversal a respeito;

f) grandes intervenções territoriais: o processo de territorialização e expansão das indústrias minero-químicas que tem implicado na destruição de áreas conservadas e semi-conservadas e principalmente de áreas de cultura agrícola camponesa; a realização de megaeventos esportivos, que vem ganhando cada vez mais espaço na agenda urbana das metrópoles contemporâneas como um grande projeto de desenvolvimento urbano, é uma das expressões das mutações do capital para a exploração de novas fronteiras até então não incorporadas em sua lógica;

g) planejamento/gestão territorial e as parcerias público-privadas (PPP): vários trabalhos, de forma direta ou transversal, levantam o tema uma vez que as PPPs têm ganho espaço no planejamento e gestão territorial tanto no que se refere ao fornecimento de infra-estrutura no campo como em intervenções urbanas de diferentes portes;

h) re-territorializações do capital e des-territorializações do trabalho: transformações territoriais no campo e na cidade e as expulsões/desalojamentos;

i) fragmentação espacial e os processos de segregação socioespacial a partir da reestruturação urbana: experiências que apontam para a negação do direito à cidade;

j) os agentes produtores do espaço e a ampliação das desigualdades sociais

Algumas vezes, temas diferentes se imbricam, por exemplo, a discussão do agronegócio pode aparecer relacionada com a necessidade da soberania alimentar como da reforma agrária ou da questão ambiental, revelando o cruzamento de diferentes conflitos.

Em geral, é possível já afirmar, com a leitura dos trabalhos, que os diferentes conflitos, no campo ou na cidade, em que pese suas similitudes e particularidades, estão relacionados com processos de expropriação capitalista que não se limitam a barreiras geográficas ou conceituais. Esta perspectiva reafirma a necessidade imperiosa de fortalecermos reflexões que busquem superar as dicotomias que nos engessam, entre elas a dicotomia campo e cidade, além de percebermos a expansão do capital para fronteiras antes não incorporadas em sua lógica.


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